Antônimos

Posted on 12:47


- Ô, Zé! Vâm'brincá dj'ãntôn'mu??
- U quê q'cê falô???
- Brincá di ãntôn'm'u, sô! Qué d'zê, uma côiz'auscõntrári'u da ôtra. Purizempp: ártu i báx'u, fórtch i frác'u...
- Ah, intindí! Intão, vâm' brincá! U quê qui vái valê?
- Um guarãná... Iêu cuméç', tá?
- Tábão!
- Gôrdd?
- Mágru!
- Hômi?
- Muié!
- Prêtt'u?
- Brãncu!
- Vêrdji?
- Vêrdji? Vêrdj' é cô! Num tem ãntôn'm, não!
- Crár'u qui tem!
- Quáquié?
- Madúr'u!
- Ô, trem! Pirdi a'pósta! Vâm' di nôv', valen' ôtt guarãná?
- Pó cumeçá!
- Saúdi?
- Duença!
- Móiádd?
- Sêc'u!
- Fumu?
- Não, não! Peraí, peraí... fumu num tem ãntôn'mu!!!
- Cráru qui tem, uai!
- Intão, qualé u ãntôn'mu di fumu?
- Vôrtemu!
...
Enviado por meu irmão Sôita. Cabôc'bão t'aquí!
A imagem veio do blog: http://cybertic.net/palavras_cruzadas.htm

Corézma

Posted on 15:35


Tem lugar no antigo Arraial Novo do Rio das Mortes uma celebração de trezentos anos, o Ofício das Trevas.

No tempo litúrgico da Quaresma (a Corézma mineira), na quinta-feira santa, nos primeiros ofícios da manhã, são posicionadas na igreja 15 velas em um candelabro triangular denominado tenebrário.  As quinze velas representam os 150 salmos da Bíblia. Ao final de cada versículo cantado as velas do tenebrário são apagadas, uma a uma, de modo que apenas a vela do vértice do triângulo não se apaga, o que simboliza o Cristo e sua ressurreição.

Ao final da liturgia há um belíssimo canto gregoriano, em latim.

Quaresma é o período de 40 dias de jejum e penitência que precede à festa da Páscoa. Tal preparação existe desde o tempo dos Apóstolos, em memória do jejum que Jesus fez no deserto.

E você me pergunta em que lugar fica o Arraial Novo do Rio das Mortes? Fica em Minas, uai!

É SãJãoDéuRêi. Lindíssima paragem.

Aproveite a Corézma e faça-nos uma visitinha. Vem, sô. Nóis tá ispêrãnn'ôcê, víu?

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A fotografia veio do blog: http://www.flickr.com/photos/44508342@N00/1349439564/

Cirvijinha...

Posted on 08:30


Hoje é sexta-feira. Até que enfim! Dia de vistchí nu mundd i caí nu crími...

Mineiro é fogo! Adora um "buteco". É que nossos botequins estão entre os melhores do planeta. Pode vir conferir. Aliás, sobre esse assunto, temos por aqui a mais alta investigação sistemática levada a efeito com seriedade e ótimo humor: o Festival Comida di Buteco de Béuzõntch. É um espanto: são centenas de bares que se inscrevem, todos os anos, apresentando diferentes e variadas qualidades de porções de tira-gostos e excepcionais cervejas geladas. E todos os belorizontinos (e  passantes) podem conferir (pedir/degustar... e pagar, é claro!) as maravilhas que são servidas.

E se você, por acaso, não estiver em Béuzõntch, procure um buteco na cidade mineira em que estiver. É certeza de bons tira-gostos e cerveja no ponto.

Cerveja? Por aqui a gente chama de cirvijinha. Que deve ser servida nustrínqui, ou seja, estupidamente gelada. Pode ser Brãma da Iscól. Ou Antártchca, Bôêmia, Bavária, Sóu, 'Taipáva... Qualquer uma. Desde que esteja "geladaça".

O Papa-léguas e o Coiote? Estão me avisando para vistchí nu mundd i caí nu crími, correndo para o buteco mais próximo. 

Iêu? Láivô, sô. Inté sigunda, víu? Abração prôcê!

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Papa-léguas e Coiote são personagens de desenho animado criados em 1949 por Chuck Jones para os estúdios Warner Bros.

Páracáza

Posted on 05:17


Mineirinha da gema (das bem amarelinhas), a coisa fofa da fotografia é a Sabrina. Que tem 9 anos e estuda em um dos melhores colégios de Belo Horizonte.

Sabrina? Fez um páracáza tendo a mim como fonte de consulta! Imagine só! "Quanta honra para um pobre marquêis", diria meu avô, o DôtôRêináldd, lá da Pédazú.

O Páracáza é uma obrigação retornável ao professor, para controle e avaliação do aprendizado. Coisa muito importante de se fazer, já que a maioria das nossas escolas não trabalha com os alunos em tempo integral, o que seria desejável.

Estudar abre o espírito, facilita o contato com outras inteligências, outras culturas e novas gentes. Isso permite que o camarada tenha suas próprias ideias, em decorrência do que passa a conhecer. E as emita de modo claro, preciso e inteligível. Desse modo o Universo interior se expande e o sujeito fica iluminado.

Desdenho de quem não gosta de ler. Fico triste em ouvir quem meramente faça o discurso de que "aprendeu na Faculdade da Vida". Acho maravilhoso quem leia e estude e aprenda com base nisso, obtendo um mundo inteiro dentro de si. É a base do sucesso. Muito poucas pessoas têm sorte na vida sem estudar: são raridades.

Assim sendo, fiquei honrado. E apresento o documento com firma reconhecidíssima - a letrinha da Sabrina:

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O que é bom dizer numa hora dessas? Só isso: - Ê, l'ém cáza!!

Um abração ao Zeca e à Rosana pela filha bacanérrima que andam criando.

Pãntchãntchã

Posted on 05:46


A Cidade Maravilhosa exerceu -e ainda exerce- grande atração nos mineiros. No passado era muito comum a história de se aproveitar das distâncias não tão impossíveis para lá ir estudar e trabalhar. Nascendo por aqui, mineiramente, e depois, mais mineiramente ainda, escorrendo para o mar.

Rio. Copacabana. Como não amar aquele "marzão" desembestado, aquelas mulheres magníficas andando seminuas pelas praias, a brisa, o sol, tudo aquilo? É certo que, depois, o Rio perdeu o charme de capital do país. Mas ainda é o Rio!

As primeiras estradas ligaram Minas ao Rio seguindo o Novo Caminho do Ouro e atravessando nossas montanhas mantiqueiras.  Assim, muita gente boa foi parar lá.

Um desses mineirinhos que foram parar no Rio compôs o tal Pãntchãntchã. Garanto, por tudo que é santo, que você já ouviu. Toca em toda festa. É música brasileira por excelência, talvez a mais conhecida de todas. Certamente, é a cara do Brasil.

O Pãntchãntchã? É o ritmo. Que se repete, como as ondas que se esbatem nas praias cariocas: Pãntchãntchã, Pãntchãntchã...

Nunca ouviu não? Rapáis du céu! A música, sô! Do Ary. Que é dali de Ubá. Zona da Mata mineira. Lugar de móveis, mangas e belas mulheres.

Ainda não? Ary Barroso, menino! Da belíssima Aquarela do Brasil: o Pãntchãntchã, ora essa...

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A imagem  do início do texto é parte da capa do disco do Ary Barroso, no vozeirão de Sílvio Caldas. Ah, você quer ver a capa? Eis a danada:

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Este post é uma homenagem ao Serjão, anzoleiro de Venda Nova, meu irmãozim de fé.

Estanho

Posted on 06:36


Há palavras que ficaram presas entre as montanhas de Minas, separadas que foram de suas origens lusitanas por conta da exaustão da mineração no final do século XVIII.  Com o esgotamento dos filões, diante da técnica então existente, os exploradores se foram. Com eles, a pujança econômica. Quem não conseguiu ir embora ficou. E, com toda aquela gente, ancorou também o palavreado.

Muitas expressões tipicamente mineiras são corruptelas de um português castiço que se esfregou na poeira daqui. Há coisas engraçadíssimas, tais como "cuspido e escarrado" que, embora tenha lá sua lógica "perdigótica", é variante de "esculpido em carrara". Carrara? O famoso mármore italiano.

Palavras? Há. Em demasia. Como estanhar, que a gente diz istãnhá. Verbo derivado do estanho, metal conhecido desde os primórdios da humanidade. Istãnhá, para nós, é espalhar, disseminar, como o próprio povo mineiro por esse mundo de Deus. E se espalha por conta da similaridade com a fundição do estanho que, derretido, é despejado nas formas, semeando prateamentos para todos os lados.

Estanhar é verbo de soldador, já que estanho e chumbo combinam bem para vedamentos. Por semelhança com "estranhar" também há quem fique istãnhádd, ou seja, irritadíssimo com alguma coisa. Deve ser porque a solda não deu certo... Êita nóis!

Na década de 60 (1960), o estanho ressurgiu com força em São João del Rey, por conta da influência de um antiquário inglês que morou lá, Mr. John Sommer. Vale a pena uma visita à cidade e ao Museu do Estanho de São João del Rey. Vái, sô! Pruvêita!
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A bela foto do conjunto arquitetônico de S. João Del Rey veio do blog: http://www.cultura.saojoaodelrei.mg.gov.br/?Pagina=patrimonio_historico

O Grande Rio

Posted on 10:24


Em São Roque de Minas, no alto da Serra da Canastra, local conhecido como Chapadão do Zagaia, brota um rio. Aquela minazinha - água transparente - parece que meramente escoa. E se espreme por entre as pedras e o mato que viceja em torno.  Dali despeja-se, cachoeira, em belíssima Casca D'Anta. 

Adiante recebe tributários e se encorpa. Muito depois é represado pelas bandas das Três Marias, serviço humano imenso. No entorno há ranchos de pescadores e a usina. E alguns peixes. Ainda há.

Barrancos depois, e muito além das carrancas, ele se transforma em Rio da Integração Nacional, banhando mais quatro Estados e dando de beber a uma multidão.

O rio? Não fosse o cuidado de poucos e já teria se acabado. Assoreamentos, desmatamento indiscriminado de suas margens, esgotos despejados de forma criminosa: são graves os ataques ao Velho Chico, que vai, málimál, sobrevivendo.

Temo por ele. Especialmente nesse Dia Mundial da Água. 

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A fotografia da nascente do Velho Chico é de Carvalho Pinto. Visite o blog dele: http://www.casadacultura.org/Literatura/Biografias/g01/carvalho_pinto.html

Diploma

Posted on 05:55


Histórias? Mineiro tem. E muitas. Coisinhas, coisiquinhas, sempre com a finíssima ironia que utilizamos por aqui. Cada coisa que contamos, sem querer dizer... dizendo! Ah, você quer uma? Intão lá vái:

O velho fazendeiro do interior de Minas está em sua sala, proseando com um amigo, quando um menino passa correndo por ali. Ele chama:
- Diprõma, fála pra sua vó trazê um cafèzim aqui pra visíta!
E o amigo estranha:
- Mas que nome engraçado tem esse menino!! É seu parente?
- Mêu netim! Iêu chãmm'êll assim purquê mãndêi minha fí'istudá ni Béuzõntch, i éla vôrtô cum êll...
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Ô, trem...

Nariz

Posted on 06:06


Poucos lugares no mapa-mundi são tão característicos quanto Minas Gerais. E a característica mais marcante está na cara. É fabulosa; sensorial paisagem: trata-se do antigo Sertão da Farinha Podre, local habitado, em priscas eras, pelos ferozes índios Caiapós.

O lugar, Mesopotâmia sertaneja, veio a se tornar motivo de embates jurídicos por conta de não se saber direito o quê pertencia a quem. Tornou-se um Julgado, o do Desemboque. Que, junto com o de Araxá, fez parte da Comarca de Paracatu do Príncipe, território vastíssimo no sertãozão que há por aquelas bandas. Depois redividiu-se tudo. E foram denominados Alto Paranaíba e Triângulo Mineiro.

Triângulo? Veja no mapa, ! É um triângulo, deveras! Um belíssimo nasal, de dar inveja no pequeno-grande menestrel do caju, Juca Chaves.

E aquela terra ótima para plantações se tornou um grande celeiro.  E também é área, por excelência, do gado zebu, do milho e do comércio. Por lá existem grandes e belas cidades. Conhece alguma? Não? Pôizintão, vêja: Uberaba, com sua imponente feira de pecuária. Uberlândia, a segunda maior cidade do interior brasileiro. E Araguari. E Frutal, e Iturama, e Ituiutaba, que a gente diz Tuiutába, bem lá no Pontal.
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- Cê vái na fêra di gádd?
- Vô. Vãm?
- M'bóra. Vô levá um gadim mêu prá'ispuzição.
- É? Quãntas rêz?
- U'mas cem, só...
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Vicissitudes

Posted on 06:49


Cachaça em Minas? A gente bebe, mêzz', um cadim. É que há por aqui as melhores cachaças do planeta, comparáveis em estilo e personalidade aos melhores uísques escoceses (ou japoneses, que são excelentes). Nossa uisgebeatha, aquavit, aqua ardens, aguardente, tomou nome de pinga por conta das gotas que pingavam dos tetos nas costas dos escravos.

Pingavam? Sim, nas "casas de cozer méis", nos idos dos séculos XVI e XVII. A garapa era fermentada em cochos de madeira e depois fervida. Entrava em ebulição. Ia aos tetos. E pingava nas costas dos escravos.

O problema mais sério, como em muitas outras coisas, é o consumo em excesso. Vêm daí as vicissitudes a que me referi no titulo. É que qualquer escorregão, tropeço ou queda, por aqui, tem justificativa no consumo da "marvada". O camarada só vê os tombos que a gente leva. E não a cachaça que a gente bebe...
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- Impúrra não, Zé Rudriguim!
- I Antõnh' Mãnél?
- Hõmm terrível prá passá rastêra nuzôtt!

Quem são Zé Rudriguim e Antõnh'Manél? Cachaças. Lá de Capitólio...

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A fotografia da cachaça de barril veio do blog:

Montanhas

Posted on 04:46


Ah, nossos horizontes...

Minas é uma montanha atrás da outra. Monolitos negros e acinzentados. Pedreiras. Morros "subíveis" ou impossíveis. Intermináveis.  

- Êss lugá é mêi môrrádd, mêzz...
- ...
- Subidão...
- Hm?
- Subidão dôidd...
- Êss'aqui?
- É...
- Iss'éladêrinha!

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A belíssima fotografia veio do blog:

Brincadeiras

Posted on 06:53


Liberdade. Brincávamos de tudo nazinfâncias... Jogávamos Pião, por exemplo. Jogo antiquíssimo, babilônico, dizem. Descobriram alguns nas escavações de Pompeia, imagine você. Por artes portuguesas, com toda a certeza, vieram para as bandas de cá.  De que jeito? Caravelas, emboabas, Entradas e Bandeiras. Ou não? 

O pião daqui? Feito de madeira bem dura para suportar os embates com os adversários. Era assim: fazia-se um círculo no chão enquanto se enrolava o barbante (cordão, em alguns lugares) no corpo do pião para o giro rápido. Rapidíssimos, os piões jogados se entrechocavam e o mais hábil jogador conseguia fazer com que os outros piões saíssem fora do círculo.

Jogos? Mãe da Rua, Finca, Bola de Gude (ou boleba, birosca, búrica, cabiçulinha, ximbra, tica, entre outras denominações) e Bola de Meia que, além de futebol, gerou um jogo típico, o Bente Altas, uma espécie de críquete local.

Ainda tinha Papagaio (ou pipa, pandorga, quadrado, piposa, cafifa), que a gente impinava. Hm? Bótav'u papagái pá subí. De modo que ele subia aos céus para as batalhas mortíferas de sempre, com cerol, que se fazia com vidro moído e cola.

Hoje? Tudo é perigoso demais. Faltam espaços públicos e amigos próximos. E o cerol virou caso de polícia.

"Soltar uma pipa é um dos mais fabulosos encontros que se pode ter com a liberdade"
 (Pipocas p.239).

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A imagem veio do blog:

Gulodice

Posted on 03:53


Êta, nóis, gulosos que somos até mandar parar! Minas? Lugar pleno de sabores e grandes mistérios gastronômicos. Alguns até orgiásticos, costuma-se dizer.

Temos muita comida boa para apresentar aos que chegam e aos que ficam. E também aos que vão embora, morrendo de vontade de voltar.

Alguns pratos são tão especiais que recebem até Certificação de Origem, certamente contestada por todos os outros municípios e localidades que têm a certeza da primazia. Por exemplo? O Fabuloso Torresmo de Três Andares de Viçosa, servido na praça, perto da Igreja Matriz. Torresmo de barriga, fritíssimo, pleno de potencialidades "colesterólicas"... Outro? O Espetacular Pastel de Angú de Itabirito (repare que nosso "angú"tem acento, já que vem bem apimentado. E, bem, passarim que come pedra conhece o fiofó que tem...). 

Outras especialidades? Menino! Tem o Magistral Rocambole de Lagoa Dourada e o Sensacional Frango com Ora-pro-nobis de São Sebastião das Águas Claras. Ora-pro-nobis? Um mato espinhento que é refogado até babar na panela. Usado no lugar do quiabo que faltou no dia, certamente, daí a criatividade da cozinheira, autora intelectual do crime.

Mais? Tem muito mais! Por toda parte há Pão de Queijo, institucionalizado como Marca Registrada das Minas Gerais. E Doce Dêlêitch, que dizemos lambendo os beiços, lábios e a colher que enfiamos no pote. E o Tutu? Nóssínhóra! E o Bôll di Fubá? Víjj! E a Goiabada com Queijo, romanescamente denominada Romeu e Julieta? E o Kaol do Café Palhares? Kaol? Ô, sô! Veja a fotografia: a montanha e meia de arroz com feijão, misturadinhos, dois "zuiúdos" (ovos fritos, rapaz!), um pedação de linguiça e uma escolha: o Ká. O Ká? Pôizintão! Pode ser uma Kacháça ou um muncádd di Kôv'i ou ôtt pedáç' di Kárni. Cê iscói.

Vãm'muçá?
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A fotografia do Kaol veio do blog:
http://www.comensais.com.br/botecos-de-belo-horizonte.htm 

Trânsito

Posted on 03:52


Em Minas há grandes cidades: Belo Horizonte, Uberlândia, Jizdifóra... (ôpa!, tem gente que diz que Jizdifóra pertence ao Rio de Janeiro, mas é tudo intriga da oposição).

Por termos grandes cidades, também somos acometidos desse mal da modernidade, o trânsito louco, como ocorre em todo o mundo. Só que, na doideira de um trânsito genuinamente mineiro, não ficamos "engarrafados" e muito menos há "congestionamentos". Não, senhor! Por aqui, utrânz'tu gárra. Hm? Gárra.

Garrá é um dos verbos mais versáteis que usamos no dia-a-dia. Assim:

- Êss trem tá mêi garrádd! - Observe o duplo dê no final do garrádd. Diga garrádo e tire o ó. É isso.  Outro ponto interessante é que, como utilizamos "trem", a frase pode significar qualquer coisa que esteja difícil de resolver. Até trânsito.

- U negóç' garrô! - Pois é. Atrapalhou tudo...

O trânsito em Béuzõntch? Nessa manhã de quinta-feira tá cumêçãnn'garrá.
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A fotografia veio do blog:
http://blogdaneta.blogspot.com/2007_05_01_archive.html

Minas e o mar

Posted on 05:13


Que Minas não tem mar é fato geográfico. Basta olhar no mapa: não tem mar e pronto. Tem montanhas. Um monte delas.  E nós adoramos aquela sensação hipnótica de subí-las e perder o fôlego na "rampagem", só para contemplar distâncias enevoadas. Aquelas nuvens todas, beirando morros, nos fazem sentir a proximidade do mar. Ansiamos o mar.

"Mesmo que eu mande em garrafas mensagens por todo o mar...", já diziam João Bosco e Aldir Blanc na maravilhosa música Corsário.

Mineiro adora mar, adora amar; nossos jogos de palavras. E quando vê o mar não se cansa de admirá-lo. Acho que isso vem dos antepassados portugueses, que colonizaram esta terra. Uma porção de Almeidas, Figueiredos, Oliveiras, Mendes, Rodrigues, Lopes, Campos, Farias. Todos portugueses. Com o mar nas veias. E que nos deram expressões que usamos, o tempo todo, pensando em mar. Quer ler uma? Taí:
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Avênaví’ – expressão histórica portuguesa que ancorou no Gerais que, apesar de não ter mar, tem saudades de mar. É que o rei de Portugal Dom Sebastião morreu na famosa batalha de Alcácer-Quibir , em 1578. Só que nunca encontraram o corpo. Desde então o pessoal esperava no Alto de Santa Catarina que alguma nau adentrasse o Tejo trazendo o monarca. Como não chegou, o povo ficou lá a ver navios. Em 1580 Portugal foi anexado à Espanha (até 1640), justamente por conta dessa crise sucessória, ocasionada pela morte do rei.
(Pipocas p. 46).
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A bela fotografia veio do blog:
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A letra completa de Corsário? Veja aqui:
http://letras.terra.com.br/joao-bosco/46512/

Ê, trem!

Posted on 07:32


Trem. Coisa de mineiro, que é tudo gentchfina. Exceto os salafrários, mas esses existem por toda parte. Por serem gente fina, tomo uma tela, um poema e um texto alheios para dizer algo sobre trem, que me foi pedido explicar.

Trem? Pois trem é palavra mineira típica, abiscoitada aos ingleses - das ferrovias e minas - que passaram por aqui. Trem? São as quiçácias das pessoas. As coisas. Mas é muito mais do que isso. Trem é poesia em movimento:
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"Todo mineiro tem um trem de ferro apitando nas veias, uma montanha brilhando nos olhos e uma banda tocando nos ouvidos." (Jorge Fernando dos Santos)
Quer conhecer o poeta? Visite o site dele: http://tremdemineiro.blogspot.com/2009/12/ano-novo-vida-nova.html
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"(...) desconfio que "trem", para o mineiro, é tudo menos uma "série de carros e vagões engatados entre si e movidos por uma locomotiva" (Houassis). Basicamente o "trem" mineiro é uma junção gramatico-cultural da "coisa" com o "troço" e o "algo". Pode ser positivo "Trem bom, uai", negativo "Ô trem lascado da peste" ou contemplativo: "É, trem..." É possível inseri-lo em qualquer proposição sem o risco de sub-entendidos, pois o "trem" mineiro é um conceito tão amplo, tão metafísico, que supera qualquer contradição que porventura esteja na frase. Se os alemães inventaram Zeitgeist para expressar o espírito do tempo, a mentalidade de uma época, a consciência histórica das gerações que se sucedem, os mineiros nos legaram o "trem", essa fortaleza conceitual que não quer dizer nada. Ou, bem ao estilo diplomático da terra: "Não sou contra nem a favor, muito pelo contrário."  (André Catuaba) 
in: http://www.overmundo.com.br/perfis/andrecatuaba
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Viu? Num é mêzz'um'a bêlêzura? Ô trem bão! Purquê? "Trem é bom porque permite prosa" (Pipocas, p.493)
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A belíssima locomotiva a vapor, a "Maria Fumaça" é arte do pintor João Barcelos. Visite o site dele: http://www.joaobarcelos.com.br/pg_inicial.htm

Uai...

Posted on 13:35


Deu no Correio Brasiliense em Agosto de 2009:

Juscelino Kubitchek, o saudosíssimo Presidente Bossa Nova, mandou pesquisar a origem do termo uai. "Depois de exaustiva busca nos anais da Arquidiocese de Diamantina e em antigos arquivos do Es­tado de Minas Gerais, o odontólogo Dr. Sílvio Carneiro e a professora Dorália Galesso encontraram uma explicação provavelmente confiável. Os Inconfidentes Mineiros, patriotas, mas considerados subversivos pela Coroa Portu­guesa, comunicavam-se através de senhas, para se protegerem da polícia lusitana. Como conspiravam em porões e sendo quase todos de origem maçônica, recebiam os compa­nheiros com as três batidas clássicas da Ma­çonaria nas portas dos esconderijos. Lá de dentro, perguntavam: quem é? E os de fora respondiam: UAI - as iniciais de União, Amor e Independência. Só mediante o uso dessa se­nha a porta seria aberta aos visitantes. Conjurada a revolta, sobrou a senha, que acabou virando costume entre as gentes das Alterosas. Os mineiros assumiram a simpática palavrinha e, a partir de então, a incorpora­ram ao vocabulário quotidiano, quase tão indispensável como tutu e trem."

Dizem também que uai é uma corruptela de why -por quê -, que os ingleses das minas de ferro e das ferrovias usavam quando não compreendiam o povo daqui. Nós mineiros? Traduzimos por uai.

No Aurélio está assim: Interjeição Brasileira e Provincialismo português. Exprime surpresa, espanto, ou terror. Donde se descobre que uai é p'rtuguêis di P'rtugál, ó pá! Só que a gente não quer nem saber: - "Uai, sô! Uai é uai, uai..."

...
A belíssima imagem de Béuzõntch nu mêi das cúrva da Serra do Curral veio do blog: http://www.tripadvisor.com/ShowUserReviews-g303374-d1443424-r30542823-Parque_das_Mangabeiras-Belo_Horizonte_State_of_Minas_Gerais.html

Relagem

Posted on 04:05

Já "ouveu" mineiro negociando? Péraí: "ouveu"? Sim! Verbo inventado por Millôr Fernandes. Ver e ouvir juntos dá ouver. Pois bom, já ouveu mineiro negociando? Aquela ladainha interminável que rola por dias e dias, semanas e meses e anos, especialmente se eles estiverem vendendo/comprando uma fazenda. Aí o negócio demooooooora.

É a relagem, que a gente diz relájj. Rela que rela, demora que demora, fenícios que somos. Deve ser por causa da miscelânica origem do pôuv' di Minas. Tem árabe, catalão, marroquino, turco, galego, judeu, grego, portuga, italiano, tunisiano. Todos daquela mediterrânea área de negócios e nigucinhos.
...
- Quãnt's qui é u'bacaxí?
- Trêis pur dez.
- I êssz daqui, us piquininim?
- Fáç' dôis pur ôitt...
-...
- Quátt pur õnzz?
-...
- Cinc'u pur sétch!
- ...
- Fechádd?
- Tá cár'u. Quér'u não. 

É a relájj.

Costumes

Posted on 04:29




É sempre bom cumprimentar uzôtt quando se chega à casa dêzz. Daí a extensa lista de modus cumprimentandi que temos por aqui:

- Ôi, Cumpádd!- É o mais comum. Afinal, o sujeito ficou dôidim pelas pérna da Cumádd...
- Bõns djía! - Observe o escorregar do djía. Como? Bote um jota depois do dê e vá escorregando...
- Iaí? - Esse é bem jovem, de modo que se ouve nas grandes e pequenas cidades mineiras.
- Mé'q'tá? - Por aqui há quem cumprimente perguntando. Sem querer saber, é claro. O problema é que tem gente que explica...
- Sim Sinhô! - Bem da roça. E a resposta é óbvia: - Sinhô, sim!
...
Todas essas formas "cumprimentísticas" -  entre centenas de outras -, explicitando a fabulosa erudição geraisana, são as "sodas". Hm? "Sodar" que,  nas roças de Minas, é cumprimentar. Tudo por causa do cavalo. A história vem dos matinhos que o cavalo fica pastando enquanto o sujeito se abeira da varanda para beliscar um biscoito e sorver um café passado na hora. Feito pela Cumádd. Qual Cumádd? A que o camarada estava olhando. As pernas, sô!
O matinho? Uma ervinha safada que atende pelo singelo nome de soda.

E se o cavalo pasta, e o dono também, o negócio engendrou a "sodagem", que é a cumprimentação; os rituais.

Você acreditou? Rapáis...

"Sodar" é corruptela de saudar. Fazer a saudação, sô. Só isso...